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Material de Obra: Por Que Atrasa? Resolva o Problema Interno

Se você está na construção civil, sabe que material de obra é o sangue que corre nas veias de qualquer projeto. Do tijolo ao acabamento mais fino, tudo depende da disponibilidade e da qualidade desses insumos. Mas, quem nunca passou pelo estresse de um material que não chega na hora certa? Atrasos são um fantasma que assombra qualquer cronograma e orçamento.
Muitas vezes, a culpa recai sobre o fornecedor. “Ah, o depósito atrasou a entrega do cimento”, “A loja demorou para mandar os pisos”. Faz sentido, certo? Mas, como engenheiro que já rodou muito canteiro por aí, posso te dizer: na maioria das vezes, o problema está mais perto do que imaginamos. Ele está dentro do nosso próprio processo.
Neste artigo, vamos mergulhar fundo na gestão do material de obra. Não vou te dar fórmulas mágicas, mas sim um caminho prático, baseado em experiência de campo, para você identificar gargalos, otimizar seus processos e, principalmente, evitar que a falta de material pare a sua obra. Vamos desmistificar a ideia de que o atraso é sempre culpa de terceiros e focar no que nós podemos controlar. Preparado? Então, vamos lá.
O Que é Material de Obra?
Pode parecer básico, mas vamos alinhar os conceitos. Material de obra é todo e qualquer insumo físico utilizado na construção, reforma ou manutenção de uma edificação ou estrutura. Isso inclui desde os componentes básicos da estrutura (como cimento, areia, brita, aço, blocos), passando por instalações (tubos, fios, conexões), até os acabamentos (pisos, tintas, louças, metais).
Cada item tem sua função específica e sua importância no resultado final. A escolha correta do material de obra, considerando especificações técnicas, qualidade e adequação ao uso, é fundamental para garantir a segurança, a durabilidade e a estética do projeto. Não é só “comprar tijolo”, é comprar o tijolo certo, na quantidade certa e garantir que ele chegue na hora certa.
A gestão eficiente desses materiais vai muito além da simples compra. Envolve planejamento, aquisição, recebimento, armazenamento, controle de estoque e distribuição no canteiro. Uma falha em qualquer uma dessas etapas pode gerar um efeito cascata desastroso: paralisação de equipes, retrabalho, desperdício de recursos e, claro, os temidos atrasos no cronograma.
É comum pensarmos que a gestão de material de obra se resume a negociar preços com fornecedores. Isso é importante, sim, mas é apenas a ponta do iceberg. O verdadeiro desafio está em orquestrar todo o fluxo, desde a identificação da necessidade lá na frente de serviço até a entrega efetiva no local de aplicação. E é nesse fluxo interno que muitos gargalos se escondem, muitas vezes invisíveis à primeira vista. Entender isso é o primeiro passo para tomar o controle da situação.
Como Evitar Atrasos no Material de Obra?
Atrasos na entrega de material de obra são uma das maiores dores de cabeça em qualquer canteiro. Equipe parada, cronograma estourando, custos aumentando… um cenário que todo engenheiro ou construtor quer evitar a todo custo. Como mencionei, a tendência natural é culpar o fornecedor. Mas, antes de ligar esbravejando para a loja de material, respire fundo e olhe para dentro.
Vamos analisar um fluxo típico (e muitas vezes problemático) de solicitação de compras que observei em diversas obras:
Fluxo (Comum) de Solicitação de Compras
- Necessidade Identificada: O pedreiro avisa o Mestre de Obras que o cimento está acabando. (Geralmente, quando já está mesmo acabando).
- Solicitação Interna 1: O Mestre de Obras anota num papel (ou manda um áudio) para o Engenheiro da obra ou para o responsável no escritório.
- Processamento no Escritório: O Engenheiro (ou comprador, ou estagiário) recebe a solicitação e começa a procurar cotações. Liga para 2 ou 3 fornecedores.
- Recebimento das Cotações: Os fornecedores enviam as propostas, às vezes por e-mail, às vezes por WhatsApp.
- Análise e Aprovação: Alguém no escritório (talvez o próprio engenheiro, talvez um gerente, talvez o dono da construtora) analisa as cotações, compara preços, condições de pagamento e prazos. Essa etapa pode envolver idas e vindas, pedidos de desconto, etc.
- Confirmação do Pedido: Finalmente, o pedido é confirmado com o fornecedor escolhido.
- Início do Prazo do Fornecedor: Só agora começa a contar o prazo de entrega prometido pelo fornecedor (ex: “entrega em 48 horas”).
- Entrega: O fornecedor entrega o material de obra.
Percebeu o problema? Entre o passo 1 (necessidade identificada) e o passo 7 (início do prazo do fornecedor), podem se passar horas preciosas, ou até dias!
Identificando os Gargalos Internos
Vamos detalhar onde o processo costuma emperrar:
- Demora na Solicitação (Passo 1 para 2): Muitas vezes, a equipe de campo só avisa da necessidade em cima da hora. Falta um controle de estoque mínimo no próprio canteiro ou uma previsão de consumo.
- Comunicação Ineficiente (Passo 2 para 3): Anotações perdidas, áudios não ouvidos, informações incompletas (qual tipo de cimento? Qual quantidade exata?). A falta de um sistema padronizado de solicitação é um convite ao erro e à demora.
- Processo de Cotação Lento (Passo 3 para 4): O responsável no escritório pode estar sobrecarregado com outras tarefas. A busca por fornecedores pode não ser otimizada (falta de um cadastro atualizado, por exemplo).
- Análise e Aprovação Burocrática (Passo 5): Essa costuma ser a etapa campeã de atrasos. Múltiplos níveis de aprovação, decisores indisponíveis, falta de clareza sobre quem aprova o quê, análise excessivamente demorada para itens de baixo valor. Já vi aprovações de compras simples demorarem mais que o prazo de entrega do fornecedor!
- Confirmação Tardia (Passo 6): Mesmo após a aprovação, a formalização do pedido junto ao fornecedor pode demorar se o processo não for ágil.
O resultado? Você acha que o fornecedor atrasou 2 dias, quando na verdade, seu processo interno consumiu 3 dias antes mesmo do pedido ser feito! O fornecedor cumpriu o prazo dele, mas o material de obra chegou tarde demais no canteiro por causa de gargalos internos.
Como resolver?
- Planejamento e Previsão: Antecipe as necessidades. Use o cronograma da obra para prever quando cada material de obra será necessário. Estabeleça níveis mínimos de estoque para itens de uso contínuo.
- Padronização da Solicitação: Crie um formulário (físico ou digital) padrão para solicitação de materiais, com campos obrigatórios (item, quantidade, especificação, data necessária, centro de custo). Isso evita informações faltantes.
- Agilidade nas Cotações: Mantenha um cadastro de fornecedores homologados e atualizado. Use ferramentas digitais para solicitar e receber cotações de forma mais rápida.
- Otimização da Aprovação: Defina alçadas de aprovação claras (quem aprova o quê, até qual valor). Simplifique o processo para itens de menor valor ou urgentes. Use comunicação ágil (ferramentas de gestão, apps) para aprovações.
- Monitoramento do Fluxo: Meça o tempo de cada etapa do seu processo de compra. Onde está demorando mais? Foque em otimizar esses pontos.
Evitar atrasos no material de obra começa com um olhar crítico e honesto sobre nossos próprios processos. Ao identificar e eliminar esses gargalos internos, você ganha agilidade, reduz o estresse e garante que o material chegue quando ele é realmente necessário.
Como Mapear os Processos de Solicitação de Material?
Entendemos que os gargalos internos são grandes vilões dos prazos de entrega do material de obra. Mas como identificar esses gargalos de forma sistemática? A resposta está no mapeamento de processos. Pode parecer algo complexo, de grandes corporações, mas garanto que é aplicável e extremamente útil até para a menor das construtoras.
Mapear o processo de solicitação de material de obra é como desenhar um mapa do caminho que o pedido percorre dentro da sua empresa, desde o momento em que a necessidade é percebida até a chegada do item no canteiro. Isso permite visualizar claramente cada etapa, quem é responsável por ela e quanto tempo ela leva.
Vamos a um passo a passo prático para você fazer isso na sua realidade:
1. Identifique os Processos Chave
O primeiro passo é listar os macroprocessos relacionados à gestão de material de obra. O principal, que estamos focando aqui, é o “Processo de Solicitação e Compra de Materiais”. Mas outros podem estar interligados, como “Recebimento e Conferência”, “Armazenamento e Controle de Estoque”, “Distribuição Interna no Canteiro”. Comece pelo mais crítico, que geralmente é o de solicitação e compra.
2. Identifique as Pessoas (e Papéis) Envolvidas
Quem participa desse processo? Liste todas as funções, não necessariamente as pessoas pelo nome (a menos que seja uma equipe muito pequena). Exemplos:
- Apontador / Almoxarife (quem percebe a necessidade inicial)
- Mestre de Obras (quem valida/solicita formalmente)
- Engenheiro da Obra (quem pode revisar/aprovar tecnicamente)
- Comprador / Assistente Administrativo (quem faz cotações)
- Gerente de Suprimentos / Engenheiro Responsável (quem aprova a compra)
- Financeiro (quem libera o pagamento)
- Fornecedor (ator externo, mas parte do fluxo)
- Recebedor / Almoxarife (quem confere na entrega)
Entender quem faz o quê é crucial para identificar responsabilidades e possíveis pontos de sobrecarga ou falta de clareza.
3. Mapeie Detalhadamente o Processo (O Fluxograma)
Agora é a hora de desenhar o fluxo. Pegue um quadro branco, uma folha grande de papel ou use uma ferramenta digital simples (até mesmo PowerPoint ou ferramentas online gratuitas de fluxograma servem). Comece a descrever o passo a passo real do processo, não o ideal.
- Início: Como a necessidade é identificada? (Ex: Nível baixo de estoque no pañol)
- Ações: O que acontece em seguida? (Ex: Almoxarife preenche formulário de requisição)
- Decisões: Há pontos onde o caminho pode mudar? (Ex: Requisição precisa de aprovação do Mestre? Sim/Não) Use losangos para decisões.
- Transporte/Comunicação: Como a informação ou o material se move? (Ex: Formulário enviado por malote para o escritório; E-mail enviado para fornecedor)
- Esperas: Onde o processo para e aguarda? (Ex: Aguardando cotações; Aguardando aprovação do gerente)
- Fim: Quando o processo termina? (Ex: Material entregue e conferido na obra)
Seja o mais detalhado possível. Converse com as pessoas envolvidas em cada etapa para entender como as coisas realmente acontecem no dia a dia. É comum descobrir que o processo real é bem diferente do que está formalizado (se é que está).
4. Analise e Avalie os Processos
Com o mapa visual pronto, comece a análise crítica. Pergunte-se:
- Tempo: Quanto tempo leva cada etapa? Onde estão os maiores tempos de espera? (Use estimativas realistas ou, se possível, meça por alguns dias).
- Custo: Cada etapa tem um custo (tempo de pessoal, recursos). Há etapas custosas com pouco valor agregado?
- Valor Agregado: Essa etapa é realmente necessária? Ela agrega valor ao processo de ter o material de obra no tempo certo?
- Redundâncias: Há etapas repetidas ou desnecessárias? (Ex: Duas pessoas diferentes aprovando a mesma coisa).
- Gargalos: Onde o fluxo “afunila”? Onde as tarefas se acumulam? (Geralmente nas etapas de aprovação ou em pessoas sobrecarregadas).
- Pontos de Falha: Onde os erros são mais comuns? (Ex: Informações erradas na requisição, perda de documentos).
5. Implemente Mudanças Gradualmente (Otimização)
Com base na análise, identifique as oportunidades de melhoria. Não tente mudar tudo de uma vez. Escolha os pontos mais críticos ou as mudanças mais fáceis de implementar (“quick wins”).
- Eliminar: Remova etapas redundantes ou sem valor agregado.
- Simplificar: Torne etapas complexas mais simples (ex: formulários mais claros, menos campos).
- Automatizar: Use tecnologia para acelerar tarefas (ex: planilhas com fórmulas, software de gestão, apps de comunicação para aprovações rápidas).
- Paralelizar: Algumas etapas podem ser feitas ao mesmo tempo? (Ex: Cotação enquanto a aprovação técnica inicial ocorre).
- Redefinir Responsabilidades: Garanta que as responsabilidades estejam claras e que as pessoas tenham autonomia adequada (alçadas de aprovação).
Comunique as mudanças claramente para toda a equipe envolvida. Explique o porquê das mudanças e como elas devem ajudar a todos.
6. Monitore os Resultados e Melhore Continuamente
Depois de implementar as mudanças, acompanhe. O tempo do processo diminuiu? Os erros reduziram? A satisfação da equipe de obra com a chegada do material de obra melhorou?
Use indicadores simples (KPIs) para medir o desempenho do novo processo (ex: tempo médio de atendimento de requisição, percentual de entregas no prazo). O mapeamento e a otimização de processos não são um evento único, mas um ciclo contínuo de melhoria (PDCA - Plan, Do, Check, Act). Revise o mapa periodicamente e continue buscando formas de tornar o fluxo mais eficiente.
Mapear o processo de solicitação de material de obra pode parecer trabalhoso no início, mas o ganho em eficiência, a redução de custos e, principalmente, a diminuição dos atrasos compensam enormemente o esforço. É um investimento na saúde operacional da sua obra ou empresa.
Como Gerenciar o Estoque de Materiais de Construção?
Tão importante quanto garantir que o material de obra chegue a tempo é gerenciá-lo corretamente depois que ele entra no canteiro. Um estoque mal gerenciado pode levar a perdas, desperdícios, furtos e, ironicamente, à falta de material justamente quando ele é necessário, mesmo que ele já tenha sido comprado e entregue.
Gerenciar o estoque não é só “guardar as coisas em algum lugar”. É um processo ativo que exige organização, controle e informação. Vamos ver como fazer isso de forma eficaz, pensando na realidade de pequenas e médias construtoras.
A Importância do Controle de Estoque
- Evitar Faltas (Rupturas): Garante que materiais essenciais estejam disponíveis quando as equipes precisarem, evitando paralisações.
- Evitar Excessos: Comprar material de obra em excesso imobiliza capital que poderia ser usado em outra parte do projeto. Além disso, aumenta o risco de perdas por danos, vencimento (no caso de cimento, argamassas, etc.) ou obsolescência.
- Reduzir Perdas e Desperdícios: Um bom controle ajuda a identificar rapidamente desvios, furtos ou uso inadequado de materiais. Permite também gerenciar melhor materiais com prazo de validade.
- Otimizar Compras: Saber exatamente o que você tem em estoque e qual a taxa de consumo ajuda a fazer compras mais precisas e no momento certo, aproveitando melhor as negociações com fornecedores.
- Melhorar o Fluxo Financeiro: Evita compras emergenciais (geralmente mais caras) e o já mencionado capital parado em estoque excessivo.
Passos para um Gerenciamento Eficaz do Estoque de Material de Obra
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Organização Física (O Almoxarifado/Canteiro):
- Local Adequado: Defina uma área específica para armazenamento (almoxarifado, paiol, ou áreas designadas no canteiro). Proteja os materiais das intempéries (sol, chuva), umidade e danos físicos. Cimento e aço, por exemplo, exigem cuidados especiais.
- Identificação Clara: Use etiquetas, placas ou marcações para identificar onde cada tipo de material de obra deve ser guardado. Isso facilita a localização e a contagem.
- Layout Inteligente: Organize o espaço de forma lógica. Materiais mais usados devem ter acesso mais fácil. Separe materiais por tipo ou por etapa da obra. Deixe corredores livres para circulação e movimentação.
- Segurança: Controle o acesso à área de estoque para evitar furtos. Considere o uso de câmeras em pontos estratégicos, se o volume de material justificar.
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Registro de Entradas e Saídas:
- Recebimento Controlado: Todo material de obra que chega deve ser conferido (quantidade e qualidade) e registrado. Use uma “Nota de Recebimento” ou um sistema similar. Não libere o canhoto da nota fiscal do fornecedor antes de conferir tudo.
- Saídas Documentadas: Ninguém deve retirar material do estoque sem um registro. Use “Requisições de Material” assinadas pelo responsável da equipe que está retirando. Isso cria rastreabilidade.
- Ferramentas de Controle:
- Planilhas: Para obras menores, uma planilha bem estruturada (Excel, Google Sheets) pode funcionar. Crie colunas para: Item, Unidade, Saldo Inicial, Entradas (Data, NF, Qtd), Saídas (Data, Requisição, Qtd), Saldo Final.
- Software de Gestão: Para obras maiores ou empresas com múltiplos projetos, um software de gestão de obras (ERP) com módulo de estoque é o ideal. Ele automatiza cálculos, gera relatórios e integra com o setor de compras e financeiro. Existem opções acessíveis no mercado focadas em construção civil.
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Inventários Periódicos:
- Não Confie Apenas no Papel/Sistema: É fundamental conferir fisicamente o estoque regularmente para garantir que os registros batem com a realidade.
- Inventário Rotativo: Em vez de parar tudo para contar o estoque inteiro de uma vez (o que pode ser inviável), faça contagens cíclicas. Conte um grupo de materiais a cada dia ou semana.
- Inventário Geral: Pelo menos algumas vezes durante a obra (ou ao final de fases importantes), faça um inventário completo para ajustar os saldos e identificar discrepâncias maiores. Investigue as causas das diferenças encontradas.
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Definição de Níveis de Estoque:
- Estoque Mínimo: Qual a quantidade mínima de um item que você precisa ter para garantir a continuidade do trabalho até a chegada de um novo pedido? Considere o tempo de reposição (lead time) do fornecedor e o consumo médio. Quando o estoque atinge esse nível, é hora de fazer um novo pedido.
- Estoque Máximo: Qual a quantidade máxima que faz sentido manter? Acima disso, você pode ter capital parado e risco de perdas. Considere o espaço físico disponível e a validade dos produtos.
- Ponto de Pedido: É o nível de estoque que dispara o processo de compra, calculado para que o novo lote chegue antes que o estoque mínimo seja atingido.
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Método de Valoração e Consumo (FIFO/PEPS):
- Para materiais com validade (cimento, argamassas, tintas) ou que podem se degradar com o tempo, use o método FIFO (First-In, First-Out) ou PEPS (Primeiro que Entra, Primeiro que Sai). Garanta que os lotes mais antigos sejam consumidos primeiro. Organize o estoque físico para facilitar isso (novos lotes atrás dos antigos).
Gerenciar o estoque de material de obra exige disciplina e método, mas os benefícios são enormes. Comece simples, com boa organização física e planilhas, e evolua conforme a complexidade da sua operação. Um estoque bem controlado é sinônimo de obra mais eficiente e econômica.
Quais São os Materiais Mais Usados em Obras de Construção?
Conhecer os principais tipos de material de obra é fundamental para qualquer profissional da construção. Embora cada projeto tenha suas particularidades, existe um conjunto de insumos que forma a espinha dorsal da maioria das construções no Brasil. Vamos detalhar alguns dos mais comuns e sua importância:
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Cimento:
- O Coração do Concreto: É o aglomerante hidráulico mais utilizado no mundo. Misturado com água, areia e brita, forma o concreto, essencial para fundações, pilares, vigas, lajes e contrapisos.
- Argamassas: Também é componente fundamental das argamassas de assentamento (tijolos, blocos) e revestimento (chapisco, emboço, reboco).
- Tipos: Existem diferentes tipos de cimento Portland (CP I, CP II, CP III, CP IV, CP V, RS, BC), cada um com características específicas de resistência, durabilidade e tempo de pega, adequados para diferentes aplicações e ambientes. A escolha correta do tipo de cimento impacta diretamente no desempenho da estrutura.
- Cuidados: Deve ser armazenado sobre estrados, em local seco e ventilado, longe de paredes, e consumido respeitando o prazo de validade impresso na embalagem.
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Agregados (Areia e Brita):
- Areia: Agregado miúdo, essencial para concreto e argamassas. Sua granulometria (fina, média, grossa) influencia na trabalhabilidade e resistência. Areia fina é usada em rebocos e acabamentos; areia média em concretos e assentamentos; areia grossa em concretos mais robustos e contrapisos. A qualidade (livre de impurezas orgânicas e argila) é crucial.
- Brita: Agregado graúdo, obtido da fragmentação de rochas. É o “esqueleto” do concreto, responsável por grande parte da sua resistência à compressão. Também possui diferentes granulometrias (brita 0, 1, 2, 3, etc.), escolhidas conforme a aplicação (concreto para lajes, vigas, pilares, bases de pavimentação).
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Aço para Construção Civil (Vergalhões):
- Resistência à Tração: O concreto é ótimo para compressão, mas fraco para tração. O aço (vergalhões) entra para suprir essa deficiência, formando o concreto armado. Essencial em pilares, vigas, lajes, fundações.
- Tipos: Os vergalhões são classificados pela sua resistência característica (CA-25, CA-50, CA-60). O CA-50 é o mais comum em estruturas. Podem ser lisos ou nervurados (para maior aderência ao concreto).
- Outros Usos: Telas soldadas (para lajes e pisos), arames recozidos (para amarrações das armaduras), perfis metálicos (para estruturas maiores).
- Cuidados: Deve ser armazenado de forma a evitar contato direto com o solo e protegido da corrosão excessiva.
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Blocos e Tijolos:
- Alvenaria: São os componentes básicos para a construção de paredes (vedação) e, em alguns casos, estruturas (alvenaria estrutural).
- Tipos Comuns:
- Tijolo Cerâmico: O tradicional “tijolinho” ou blocos cerâmicos furados. Leves, bom isolamento térmico.
- Bloco de Concreto: Mais pesado, maior resistência, regularidade dimensional. Usado tanto para vedação quanto para alvenaria estrutural.
- Bloco Celular Autoclavado (BCA): Leve, bom isolamento térmico e acústico, fácil de cortar.
- Tijolo Ecológico (Solo-Cimento): Prensado, não necessita de queima, encaixe facilita o alinhamento e reduz uso de argamassa.
- Escolha: Depende do tipo de estrutura, necessidade de isolamento, custo e mão de obra disponível.
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Madeira:
- Versatilidade: Usada de forma temporária e permanente.
- Formas e Escoramentos: Fundamental para moldar o concreto fresco (formas de pilares, vigas, lajes) e para sustentar estruturas durante a cura (escoramentos). Pinus e eucalipto são comuns para este fim.
- Estruturas de Telhado: Vigas, caibros, ripas formam a estrutura que suporta as telhas.
- Acabamentos: Portas, janelas, forros, pisos (assoalhos, tacos), rodapés, decks. Madeiras de lei (Ipê, Jatobá, Cumaru) são mais nobres e duráveis para acabamento.
- Tratamento: Para maior durabilidade, especialmente em contato com umidade ou cupins, a madeira deve ser tratada (autoclave, vernizes, etc.).
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Materiais para Cobertura:
- Telhas: Protegem a edificação da chuva e do sol. Diversos tipos: cerâmicas (colonial, portuguesa, romana, francesa), de concreto, fibrocimento (sem amianto!), metálicas (aço galvanizado, galvalume), PVC, ecológicas (fibras vegetais), translúcidas (policarbonato, vidro).
- Mantas e Impermeabilizantes: Essenciais para evitar infiltrações, especialmente em lajes e telhados com baixa inclinação. Mantas asfálticas, membranas acrílicas, poliuretano.
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Materiais para Instalações:
- Hidráulica: Tubos e conexões (PVC soldável para água fria, CPVC/PPR para água quente, PVC esgoto), caixas d’água, registros, louças (vasos, pias), metais (torneiras, chuveiros).
- Elétrica: Eletrodutos (conduítes corrugados ou rígidos), fios e cabos (dimensionados corretamente!), caixas de passagem, quadros de distribuição, disjuntores, tomadas, interruptores, luminárias.
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Materiais para Acabamento:
- Revestimentos de Piso: Cerâmicas, porcelanatos, pedras naturais (granito, mármore), pisos vinílicos (LVT), laminados, cimento queimado, madeira.
- Revestimentos de Parede: Azulejos, pastilhas, tintas (látex PVA, acrílica, epóxi), texturas, gesso, papel de parede.
- Gesso: Placas de drywall (paredes e forros), gesso em pó (revestimentos, acabamentos, sancas).
- Vidros: Para janelas, portas, fachadas, boxes de banheiro. Diferentes tipos (comum, temperado, laminado) e espessuras.
- Tintas e Vernizes: Proteção e estética final das superfícies.
Essa lista não é exaustiva, mas cobre boa parte do material de obra que movimenta os canteiros brasileiros. Conhecer suas características, aplicações e cuidados é essencial para o planejamento, a compra e a execução de qualquer obra com qualidade.
Como Calcular a Quantidade de Material Necessária para uma Obra?
Calcular corretamente a quantidade de material de obra é um dos pilares para evitar desperdícios e garantir que não falte nada no momento crucial. Errar para menos causa paralisações e compras emergenciais caras. Errar para mais significa capital parado e risco de perdas. O cálculo exige atenção aos detalhes do projeto e um pouco de matemática básica.
Não existe uma fórmula única para todos os materiais, mas o princípio geral envolve:
- Levantamento de Dimensões: Medir comprimentos, larguras, alturas, áreas e volumes a partir do projeto (plantas baixas, cortes, fachadas, projetos complementares).
- Consulta a Especificações: Verificar o rendimento do material (informado pelo fabricante ou por tabelas de composição) e as especificações do projeto (traço do concreto/argamassa, tipo de assentamento, etc.).
- Consideração de Perdas: Sempre adicionar uma porcentagem extra para cobrir perdas por quebras, cortes, arredondamentos e eventualidades durante a execução. Essa porcentagem varia conforme o material e a complexidade do serviço (geralmente entre 5% e 15%).
Vamos ver exemplos práticos de cálculo para alguns materiais essenciais:
1. Cálculo de Concreto (Volume e Materiais)
- Objetivo: Calcular o volume de concreto para uma viga e a quantidade de cimento, areia e brita.
- Dados: Viga com 5m de comprimento, 0.2m de largura e 0.4m de altura. Traço do concreto (em volume, seco): 1:2:3 (cimento:areia:brita).
- Cálculo do Volume:
- Volume (V) = Comprimento × Largura × Altura
- V = 5m × 0.2m × 0.4m = 0.4 m³
- Cálculo dos Materiais (Usando um fator de rendimento aproximado):
- Para fazer 1 m³ de concreto com traço 1:2:3, consome-se aproximadamente:
- Cimento: 7 a 8 sacos de 50kg (vamos usar 7.5 sacos/m³)
- Areia Média: 0.50 m³ a 0.55 m³ (vamos usar 0.52 m³/m³)
- Brita 1: 0.80 m³ a 0.85 m³ (vamos usar 0.83 m³/m³)
- Água: Varia (fator água/cimento), mas cerca de 180-200 litros/m³.
- Quantidade para a viga (0.4 m³):
- Cimento = 0.4 m³ × 7.5 sacos/m³ = 3 sacos
- Areia = 0.4 m³ × 0.52 m³/m³ = 0.208 m³
- Brita = 0.4 m³ × 0.83 m³/m³ = 0.332 m³
- Para fazer 1 m³ de concreto com traço 1:2:3, consome-se aproximadamente:
- Adicionando Perdas (Ex: 10%):
- Cimento = 3 sacos × 1.10 ≈ 3.3 sacos (Comprar 4 sacos)
- Areia = 0.208 m³ × 1.10 ≈ 0.23 m³
- Brita = 0.332 m³ × 1.10 ≈ 0.37 m³
- Nota: Os valores de consumo por m³ podem variar. Consulte tabelas de traços ou use um software para maior precisão.
2. Cálculo de Tijolos/Blocos para Alvenaria
- Objetivo: Calcular a quantidade de blocos cerâmicos para uma parede.
- Dados: Parede com 6m de comprimento e 2.8m de altura. Bloco cerâmico de 9x19x19 cm (largura x altura x comprimento). Junta de argamassa de 1 cm.
- Cálculo da Área da Parede:
- Área (A) = Comprimento × Altura
- A = 6m × 2.8m = 16.8 m²
- Cálculo da Área de um Bloco Assentado (considerando a junta):
- Dimensões do bloco + junta: (19cm + 1cm) de altura e (19cm + 1cm) de comprimento = 20cm x 20cm = 0.2m x 0.2m
- Área por bloco assentado = 0.2m × 0.2m = 0.04 m²
- Alternativa (mais precisa): Calcular quantos blocos cabem em 1 m².
- Blocos na altura = 1m / (0.19m + 0.01m) = 1m / 0.20m = 5 blocos
- Blocos no comprimento = 1m / (0.19m + 0.01m) = 1m / 0.20m = 5 blocos
- Blocos por m² = 5 × 5 = 25 blocos/m²
- Cálculo da Quantidade de Blocos:
- Quantidade (Q) = Área da Parede × Blocos por m²
- Q = 16.8 m² × 25 blocos/m² = 420 blocos
- Adicionando Perdas (Ex: 7% para quebras e cortes):
- Q_final = 420 blocos × 1.07 ≈ 450 blocos
3. Cálculo de Argamassa para Assentamento
- Objetivo: Calcular o volume de argamassa para assentar os blocos da parede anterior.
- Dados: Área da parede = 16.8 m². Espessura do bloco = 9 cm (0.09m). Juntas horizontais e verticais com 1 cm (0.01m) de espessura. Traço da argamassa 1:2:8 (cimento:cal:areia).
- Cálculo do Volume de Argamassa:
- O volume de argamassa por m² de parede varia, mas uma estimativa comum para bloco de 9cm é de 0.015 a 0.020 m³ por m² de parede. Vamos usar 0.018 m³/m².
- Volume Total Argamassa = Área da Parede × Consumo por m²
- V_arg = 16.8 m² × 0.018 m³/m² ≈ 0.30 m³
- Cálculo dos Materiais (para 1 m³ de argamassa 1:2:8):
- Cimento: ~160 kg (3.2 sacos)
- Cal: ~140 kg
- Areia: ~1.1 m³
- Quantidade para a parede (0.30 m³):
- Cimento = 0.30 m³ × 3.2 sacos/m³ ≈ 1 saco
- Cal = 0.30 m³ × 140 kg/m³ ≈ 42 kg
- Areia = 0.30 m³ × 1.1 m³/m³ ≈ 0.33 m³
- Adicionando Perdas (Ex: 15% para argamassa):
- Ajustar as quantidades finais considerando a perda.
4. Cálculo de Tinta
- Objetivo: Calcular a quantidade de tinta para pintar a mesma parede (ambos os lados).
- Dados: Área da parede = 16.8 m². Pintura em 2 demãos. Rendimento da tinta (informado na lata): 10 m² por litro por demão.
- Cálculo da Área Total a Pintar:
- Área Total = Área da Parede × 2 lados = 16.8 m² × 2 = 33.6 m²
- Cálculo da Quantidade de Tinta por Demão:
- Litros por demão = Área Total / Rendimento
- Litros = 33.6 m² / 10 m²/L = 3.36 Litros
- Cálculo Total para 2 Demãos:
- Litros Totais = Litros por demão × Número de demãos
- Litros Totais = 3.36 L × 2 = 6.72 Litros
- Adicionando Perdas (Ex: 10%):
- Litros Finais = 6.72 L × 1.10 ≈ 7.4 Litros (Comprar 2 galões de 3.6L)
Considerações Importantes:
- Leia o Projeto: A base de todo cálculo é um bom projeto, com todas as dimensões e especificações.
- Memória de Cálculo: Documente como você chegou aos números. Isso ajuda a conferir e a ajustar para projetos futuros.
- Unidades: Cuidado com as unidades (metros, centímetros, m², m³, litros, kg, sacos). Converta tudo para a mesma base antes de calcular.
- Software: Para obras mais complexas, o uso de softwares de orçamento e planejamento (que calculam quantitativos a partir de modelos BIM ou desenhos CAD) é altamente recomendado, pois aumenta a precisão e a velocidade.
- Experiência: Com o tempo, você desenvolve um “feeling” para os consumos e perdas médias na sua região e com sua equipe, mas sempre parta de um cálculo técnico.
Dominar o cálculo de material de obra é uma habilidade essencial para o engenheiro e construtor. Reduz custos, evita paradas e contribui significativamente para o sucesso financeiro e operacional do empreendimento. Lembre-se que a precisão aqui se traduz diretamente em economia no canteiro.